Wednesday, December 31, 2008

sem métrica

Estou trabalhando e amanhã venho trabalhar. Há anos, minha sensação com o ano novo é nada cinematográfica. Percebi, no entanto, que isso está ligado a outra coisa: vivo sensações cinematográficas durante o ano todo.

O mundo não é bonito, as pessoas não são legais e a maioria nem vale a pena. Mas putz, tem gente, e como tem! que te faz duvidar, perguntar, pensar e principalmente ceder.

2008 me deu umas rasteiras, mas no primeiro dia dele eu disse a uma amiga: esse vai ser um ano de revoluções: deixei a casa dos meus pais, me desfiz do meu carro; e isso pra começar pelo tátil e visível. Depois disso, aceitei o brinquedo de se relacionar e se despedir.

Em dias como esse, sinto uma ternura alcoólica, uma vontade de abraçar meus amigos, camaradas de copo e de cruz, e dizer que o mundo é uma merda e é injusto. E a gente vive não sabendo o que fazer e o que dizer e estamos sempre fazendo a coisa errada. Mas de alguma forma, existe essa sensação de que a beleza de uma rosa pode ter fazer esquecer todo o sangue e a mágoa. E o amor, a amizade, pra mim são verdades universais, porque não se encaixotam, não cabem em fôrmas ou manuais.

Quando estou com vocês, meus amigos, queimo os livros, perco as palavras. E a minha verdade fica sendo somente a do afeto. Daí, bem, nem me lembro que dia é hoje.

Monday, December 29, 2008

desvairio

I'm throwing my arms around all of paris because only stone and steel accept my love

casa comigo, morrissey? prometo não transformar você em alguém feliz e te mantenho miserável até o fim dos nossos dias.

I have forgiven jesus

and

I break up the family,

all for you, babie.

Labels:

Tuesday, December 23, 2008

talking about fire, my tongue has burnt**

O Fogo começou, terminou e eu fiquei com uma obsessão: não entendo lhufas de música, acordes ou compassos, mas posso bem contar do que entendo bem, diversão. De cara, as expectativas eram altas. Boas bandas e muitas delas eu e a maioria jamais tinha ouvido sequer uma gravação.

A primeira noite começou fraca e sintomática. Não gosto de generalismos, mas campo-grandense é reclamão e ainda não sacou a idéia dos festivais independentes, ou, ao menos, o que eu entendo por eles. O fato é que o pessoal foi chegando tímido, mas foi chegando e no avançar da noite, a histeria coletiva que o Bar Fly tanto já presenciou se repetiu, com os mesmos de sempre, e com uma moçada nova, dessas que a gente não encontra sempre na noite.

O que eu acho fantástico dos festivais é essa democracia. Os shows são curtos e isso é ruim, mas existe um trânsito, um outro movimento que respira além dos palcos. Se a banda que começou não te agrada, você sai, toma um ar, uma cerveja, fuma um cigarro, conversa com os caras e as garotas das bandas. Essa troca é inigualável. Todos ou a maioria está ali pela diversão, pelo prazer de tocar, de dançar, de encontrar outras pessoas, estabelecer conexões.

Lugar de honra, pra mim, fica para o Nevilton, que eu não conhecia ao vivo, e faz um show dançante, “pulante” e divertido. Melodias boas, letras inteligentes e presença. Eles se divertem lá em cima, a gente morre de se divertir aqui em baixo. Destaque ainda para Amigo Punk, do Graforréia, que me lembrou da gauchada do meu coração e me fez pensar que se territorialmente estamos tão distantes, o sul mora bem aqui do lado. Honras também a Revoltz, que como sempre fez um show delicioso, fantástico, suado e molhado de cerveja, com direito a invasões no palco e palhinhas da Dimitri Maíra. Além do som, um power pop com destaque pro power, acho o Revoltz visualmente deleitoso. A Marcela é linda e colorida, pula e dança, além de dedilhar o teclado.

De Campo Grande, tocaram Falange da Rima, Repúdio CxGx, Mandioca Loca, Bando do Velho Jack e o Marinão com o projeto do Link Off, pra fechar a noite. Repúdio CxGx tocou para um público ainda tímido e foi seguido pelo Falange da Rima, que me surpreendeu, não pela qualidade das rimas, mas por ter conseguido agregar mais gente em torno do palco. A pick-up comandada por Magão foi atraindo gente que como eu não se interessa tanto pelo rap, mas que também não rejeita a audição.

O Bando do Velho Jack veio e lembrou que estrada pesa no som e garantiu o espaço do good and old rock’n’roll. O Mandioca Loca veio na mesma linha, pesando nas guitarras, num show vigoroso, marcado pela influência fronteiriça da polca paraguaia e seus compassos ternários, bastante sublinhado na bateria.

A noite terminou quente, o público foi constante e em todos os lugares do bar tinha gente. Jogando sinuca, sentado no balcão tomando umas geladas, trocando idéia ou curtindo os shows.


A segunda noite, apesar de estar no início no melhor clima de ressaca, terminou linda (ou lhinda, como diz Adelaide Ivanova, fotógrafa tudo). A programação estava mais pesada e por isso mesmo, pra mim, demorou mais a ser assimilada. O Facas Voadoras trocou com o Noradrenalina e acabou fazendo um show pra pouca gente, quando o pessoal ainda chegava. Vejo shows do Facas desde o começo, mas no FOGO ficou muito saliente aos meus ouvidos a transição sonora pela qual eles passaram desde que o finado (e belo) Boêmios acabou, enxugou e trouxe o Diegão, dançando os dedos canhotos pelo baixo. A última música – que preciso descobrir o nome – é um veneno que me lembrou Queens of the Stone Age, numa comparação que pra mim é um elogio. Escutei do Heitor Be e repito: eles mergulharam num barril de veneno.

Das bandas da casa, minha grande expectativa era ver o Noradrenalina, da qual eu já ouvia falar, sabia que tinha o Ganassin no baixo, mas não ouvia tocar. Tive a sensação que falta produzir, de repente arredondar o som, porque é muito bom. Fodão, mesmo. O Heitor, como já foi dito por aí, parece o Ian Curtis e, pasme, ouvi dizer que ele nunca nem mesmo viu ou ouviu o Division em ação. Um show forte, divertido e catártico. Ainda falando do pessoal daqui, o Jennifer Magnética não ganhou minha atenção, mas também ouvi muita gente dizendo que aquele não foi o melhor show.

O Tonighters, do Paraná, também garantiu passinhos, pulinhos e sorrisos. Além de um indie garageiro decentíssimo, eles são visualmente agradáveis e bonitinhos com suas calças justinhas e visu moderninho. Prato feito e cheio para nossas adoráveis groupies under 18.

Da sujeira, barulheira e poluição paulistana veio a porrada do Orange Disaster, que segundo os próprios, devolvia a São Paulo o inferno que ela os oferece. E eu, que não sou fã de gritaria, me rendi e assisti catatônica àquela sessão de exorcismo. JC agarra o microfone e não poupa cordas vocais. E não é só isso. Ele grita, pula, se joga ao chão, rasteja e catapulta incautos ao show foda desses caras. Davi tocou de sunga e nem assim aplacou o calor. vinni f tocou de peito aperto e junto do Rafa quase moeram suas guitarras nos momentos chave. E não se enganem com as poses más no palco. Os caras são boa gente pra caralio e TÊM que voltar, nem que voltem com suas outras bandas (Davi é do Ecos Falsos, vinni é da Jazzblaster e Rafa é do Capim Maluco).

A grande expectativa da noite, pelo que senti, era o Macaco Bong, banda cuiabana que tem arrancado elogios aos quatro cantos. E eu, que nada entendo de música, preciso dizer: não me fascina. É impossível falar mal, é lindo, é bem feito, é virtuoso. Mas é introjetado demais e, naquela noite fervida, eu estava mais para o berreiro desastroso do que para a contemplação.

A segunda noite foi fechada com o Dimitri Pellz, que mais uma vez fez um show desordeiro, dançante e incansável. A música mais nova, umbigo, tem um batidão fantástico que já a coloca no top 5. O palco virou um convite pelo direito à farra (trocadilho cover), com direito às intervenções amalucados da Lucão e do Heitor e dezenas de moshs. Ao fim do show, um sem número de pessoas estava sobre o palco, num semi-jam desordenada e barulhenta. Terminou o Fogo no Cerrado, com um slogan tácito: uma ode à diversão.

Fernanda Brigatti


**originalmente publicado em www.fogonocerrado.com

Labels:

2009 must have

show do radiohead - e que seja sob lágrimas, não chuvas

motherfish, nevilton, uns berros com orange disaster, um casório com brian setzer, um baile com charme chulo, umas lágrimas com abraços, verdades de afetos, suor, cerveja, metabolismo acelerado e closures.

quero ir pra curitiba, voltar à maringá, quero ir a ouro preto, quero comprar maquiagens fodas, quero terminar de ler maiakóvski, quero comprar menos livros e diminuir a pilha dos não-lidos, não vou parar de fumar (pai, se você entrar um dia aqui, é brincadeira, eu não faço isso), não vou parar de beber e nem de dançar. também não vou falar mais baixo, nem mais devagar e vou continuar mostrando os dentes.

opa, descobri minha resolução de ano novo: continuar sendo exatamente o que eu sou e me sentir confortável com isso, seguindo sempre a política de não-agressão.

e 2009 tem que ter também um tombo memorável, um porre imemorável, um noite sem fim e uma festa de reinauguração da minha casa, um ano depois.

Tuesday, December 02, 2008

a terça-feira me acordou

cedo, só para que me lembrar que eu
estou sempre chegando tarde demais.