Thursday, April 24, 2008

sentimentalismo, porque pedra também rola

Ao telefone, ontem, recebo um convite muito querido de minha mãe, para que eu volte a morar com eles. O convite veio de uma voz amável, sincera e quase melancólica, que me fez sorrir e quase não ter coragem de dizer não. Um tom diferente daquele que ouvi há meses, quando comunicava seriamente minhas sérias intenções de mudar minha paragem. Ela se inundou de mágoa quando soube o que eu queria fazer e até se recusou a conhecer o lugar em que eu pretendia morar, junto com Ana.
Muita coisa mudou desde então, especialmente porque no intervalo até eu concretizar a mudança, ela não só aceitou a idéia, como engajou-se e me ajudou a mudar para um canto só meu, mas com espaço para ela, para Ana, o Heitor e todas as pessoas que completam qualquer noção de lar para mim.
Me senti incrivelmente inundada de ternura com o convite, mas não vejo qualquer possibilidade disso ocorrer. O que antes era uma vontade por um espaço, um quarto em que eu pudesse respirar, hoje se concretiza em uma casa, pequena, improvisada, mas totalmente minha. Um espaço que respira comigo, que se ausenta comigo e que se apresenta em cada plano meu. A sensação de chegar na casa silenciosa, desarrumada, à espera pelos meus sons, minhas vontades, minha iniciativa de arrumação, de limpeza, de recepção de visitas... tudo isso é inigualável.
Agora aprendo a conviver comigo, com o meu silêncio e o meu barulho. Minhas circunstâncias e inércias. Posso ir de Chico Science a Astor Piazolla em três músicas e não pedir licença. Posso usar a TV como porta-chaves sem ser repreendida. Posso ter lastros dos meus dias espalhados pelos cômodos em seus odores e restos sem culpa.
O meu sentar em frente ao computador e escrever, ler, vadiar por horas a fio e ter como único limite e inimigo a minha própria consciência. Ser o único amigo e principal carrasco, nessas horas, faz o meu mundo parecer muito melhor.