Wednesday, September 17, 2008

daquele jeito

Hoje é um daqueles dias. Daqueles dias sensíveis, na margem da ternura, na margem da melancolia, mas um bocado distante da tristeza. Um daqueles dias que a gente conhece. Daqueles que antes do quinto trago eu já me declarei pra todo mundo da maneira mais desajeitada possível. As vezes nem me compreendem, mas vale, né? Um dia as sinapses permitem.
É um daqueles dias que a tarde viraria noite e madrugada e sustos ao olhar a hora com bolsas recolhidas as pressas, o último cigarro no carro e os últimos cinco minutos de prosa na porta do carro, com sabor de quero mais e até amanhã, me liga quando acordar.
Dias em que a gente começa falando do dia, do dia anterior e daquele dia em que não te contei o que aconteceu porque não deu tempo e, meu deus, que absurdo, mas agora já passou, não estou tão enlouquecida mais. Depois a gente fala das mudanças na rotina, que vai dormir mais cedo e comer melhor.
Às vezes, até o cigarro planejamos largar mês que vem.
Às vezes, até em academia a gente se matricula e aparece uma semana, sem dó daquela grana.
Depois de emagrecer, ficar com a pele boa e sono em dia, passamos a conversar de verdade. É quando a gente mais pertinho, se encosta, se recosta, se apóia, deita no chão, pede casaco, tira a sandália e abre o botão da calça. É quando a semana de merda é roupa velha, sem a menor importância.
Eu tenho certeza que hoje é um daqueles dias em que eu falaria quatro palavrões a cada cinco minutos e prometeria dar na cara de um monte de gente idiota e emendaria num discurso sobre como o amor me salvou da solidão e de como eu sou feliz por ter essas pessoas tão eternas na minha vida.
E provavelmente eu começaria a chorar e a Carol e a Manu iam querer me abraçar emocionadas, a Ana ia tirar um sarrinho e a Silvia ficaria constrangida. E todo mundo ia falar depois que eu finjo que não sei demonstrar carinho e a gente ia emendar algum assunto sobre o destino das relações, sobre a efemeridade de quase tudo e sobre as nossas inseguranças e vontades.
Antes das 2 da manhã, já encontramos soluções pra todas as dores de amor, pro chulé, mal-olhado, assadura e dor de dente.
Depois da duas, já me arrastei com metade pr’a tomar as últimas e encerrar aquele assunto, aquele. Vamos gritar dentro do carro de alguém, assustar alguém na rua. Comprar cigarros em lugares duvidosos, alguém vai se assustar com a hora e o dia seguinte seria o mais ressaqueado e feliz da semana.

Duas semanas e alguns dias.
A saudade me garante o acordar e o dormir e acordar e dormir e acordar e dormir e ter certeza que hora ou outra isso vai ser interrompido pelas anormalidades mais belas que povoam os meus dias e a minha vida.