Monday, July 10, 2006

Lua de São Jorge: réplica à fadataura

Só sobre a Lua. Saudade, melhor não


Não sei sobre a menina do cabelo de querubim. A minha vó, que tem mania de fazer amizades estranhas e bolinho de chuva, dizia sobre os trovões: “shhhhhh... escuta, São Serafim está comendo os anjos”. Pode ser mesmo que o céu seja repleto de dor e morbidez. Cheio de anjos violentados, presos.Então não há mesmo felicidade possível. Mas os avós são sempre cheios de axiomas, traumas e segundas intenções, como fazer a gente dormir antes do Jornal Nacional.
Mas eu sei que ninguém que pode ver consegue ficar indiferente a uma lua cheia. Pescadores, apaixonados, abandonados, cabeleireiros, psicopatas, frígidos, lobisomens, vaga-lumes, poetas e músicos (estes dois, interesseiros profissionais na matéria-prima noturna).
Um amor bem grande pode não ser triste. Nem todo gigante é canibal e infeliz, como na história do pé de feijão. Vinicius também achava que uma mulher tem que ter qualquer coisa de triste, o molejo de amor machucado, uma beleza que vem da tristeza. È lindo, mas não é verdade sempre, assim como as palavras dos apaixonados.
Um amor bem grande pode ser alegre, bagunceiro e festivo, se tiver coragem. Um dia ele morre e todo romance sempre acaba mal, se não acabou mal, é porque não acabou, de acordo com o 02 Neurônio. Pode morrer inteiro, pode morrer só pra você ou pode ser enterrado vivo, se você estiver com muito medo.
Memórias com lua cheia são indigestas. Deixo as gavetas fechadas, mas nada de guardar lá o gosto do algodão-doce e os cheiros que fazem feliz. Ora, não são coisas de gaveta. São coisas de se levar na carteira, de se levar no peito, como os patuás. Não enterro nem engaveto nada que me faz feliz.
... meet me in Montauk...
Ruína Azul: De nada adiantou a Lacuna Inc para a ajudante do médico. Ela se apaixonou por ele de novo, do mesmo jeito, pelas mesmas coisas. O que nos provoca não muda. Se a página é apagada, sem memória de novo vai ser preenchida da mesma forma. È triste, mas a gente precisa das manchas, das marcas, para que o texto seja outro, ainda que igual.
Aprovo todas as teorias sobre a lua cheia, Ana. E acredito na idoneidade dos seus suspiros, que devem ter, sim, ar na conta corrente.

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